Golpe «<i>Made in USA</i>»

Ângelo Alves

«Os EUA tinham conhecimento prévio do golpe e que estiveram reunidos com os golpistas»

Quem por momentos possa ter imaginado que no Mundo, e em particular na América Latina, os «tradicionais» golpes de Estado fascistas, típicos da criminosa ofensiva do imperialismo no subcontinente durante o Século XX, descritos e profusamente explicados nos manuais da CIA, tinham terminado, enganou-se. A situação nas Honduras aí está a prová-lo de forma eloquente.
Nem a sofisticação dos meios ao dispor da oligarquia económica e financeira e do imperialismo; nem a impressionante barragem mediática tentando em primeira instância inverter os factos e em segunda silenciar a verdade; nem a hipocrisia e ambiguidade que marcam as posições da chamada «comunidade internacional», conseguem esconder uma realidade evidente: o golpe que teve lugar no dia 28 de Junho nas Honduras é um golpe fascista, financiado pela oligarquia e pelas multinacionais norte-americanas instaladas no país e concretizado por militares intimamente ligados à CIA e ao Pentágono. Um golpe realizado num país profundamente dependente dos EUA em termos económicos, estratégico do ponto de vista da projecção das suas forças militares no subcontinente e de onde saíram algumas das mais conhecidas operações terroristas dos EUA na região como a tristemente célebre operação dos «contras» na vizinha Nicarágua.

O golpe tem todos os ingredientes de outros conhecidos crimes do imperialismo na História da América Latina: instigação e desinformação apoiada desde o exterior, tomada do poder pela força, repressão violenta da resistência popular, envolvimento descarado do poder económico, encerramento dos meios de comunicação social, expulsão violenta do presidente Zelaya, tentativa de instigação de sentimentos racistas e xenófobos, entre outros.
E também o envolvimento dos EUA, como reconhecido em conferência de imprensa do Departamento de Estado norte-americano no passado dia 1 de Julho em que é referido que os EUA tinham conhecimento prévio do golpe e que estiveram reunidos com os golpistas «tentando buscar outra solução».
Está mais do que documentado o envolvimento do actual Embaixador dos EUA nas Honduras, Hugo Llorens - principal assessor de George W. Bush para os assuntos andinos no período em que teve lugar o golpe na Venezuela que tentou pela força afastar Hugo Chavez e com ligações a figuras tão tenebrosas como Otto Reich ou John Negroponte – no apoio aos golpistas. E se provas faltassem sobre o apoio dos EUA à coligação de forças, políticas, económicas, judiciais e eclesiásticas envolvidas no golpe, os próprios documentos da agência norte-americana USAID se encarregam de provar o financiamento a organizações hondurenhas que estão na direcção do golpe como o «Conselho hondurenho de empresas privadas». A inclusão de Lanny J. Davis - especialista em relações públicas, apoiante de Hillary Clinton nas eleições presidenciais norte-americanas e defensor do golpista Micheletti no Congresso dos EUA – na delegação golpista enviada à Costa Rica para conversações com o presidente Arias é a cereja no bolo do envolvimento estadunidense.

É natural que assim seja, os interesses dos golpistas e do imperialismo convergem. No dia do golpe os hondurenhos preparavam-se para participar num referendo sobre a possibilidade de instalar uma Assembleia Constituinte que revisse a retrógrada constituição do tempo da administração Reagan que permitiu a colonização económica do país. As Honduras tinham aderido recentemente à ALBA e Zelaya já tinha anunciado «tocar» na gigantesca base militar dos EUA de Soto Cana decidindo aí construir um terminal civil para voos internacionais.
Mas o golpe nas Honduras não é apenas dirigido contra Zelaya e o povo hondurenho, ele é dirigido a todos os povos e países da América Latina que continuam a dar corpo à onda de progresso e de afirmação soberana que varre o sub-continente. É por isso que a derrota incondicional dos golpistas é fulcral para as Honduras e para a América Latina. E é por isso que os discursos de Obama não «batem certo» com a realidade pela qual é também responsável.


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